segunda-feira, 16 de junho de 2008

Linha Vermelha

Ela abriu a bolsa de verniz e tirou um pequeno estojo preto. Pegou o espelho, abriu o estojo e começou a passar sua maquiagem. Engraçado como as coisas são, né? Eu sempre faço isso no metrô, mas foi estranho ver aquilo. Era como se eu estivesse assistindo eu mesma.
Primeiro ela pintou as pálpebras de azul. Depois delineou os olhos com um lápis preto bem forte. Aeromoça? Não, não estava indo na direção do aeroporto. Ficou muito tempo passando o lápis e corrigindo os riscos no espelho. Secretária? Acho que não, seu vestido era sério e reto, mas curto demais para se usar num escritório.
Guardou o lápis, checou os detalhes no espelho. Pegou o rímel. Puta? Não tinha postura pra isso e, apesar das sandálias de salto vermelhas de verniz, era recatada, talvez até retraída. Passou a tinta preta nos cílios para que ficassem curvos. Dona de casa? Definitivamente não. Tinha feição de mulher independente, trabalhadora, nem tanto.
Para finalizar a obra, abriu o batm cor de carmim e não passou por todo lábio, apenas corrigiu pequenas falhas. Seria eu mesma? Quem sabe! Eu espectadora de mim. Quantas eus existem pelo metrô?
Colocou os óculos escuros, encostou a cabeça e fechou os olhos pintados.

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